Em tempos de radicalismo político, patrulhamento ideológico, isolamento tecnológico e intolerância à crítica, o tema “civilidade” volta a pontuar estudos, pesquisas e notícias. Incivilidade, rudeza, grosseria e hostilidade são algumas palavras para definir a epidemia que vem se alastrando pela sociedade e pelas organizações.
Ao tempo em que a modernidade aparenta trazer ganhos de conhecimento e desenvolvimento fundados na tecnologia, não menos certo é que valores sociais – como o respeito e a consideração – parecem ficar em um segundo plano.
O ambiente de trabalho é solo fértil para a hostilidade. Chefes e subordinados, poder e subordinação, qualidade do trabalho e metas e emprego e desemprego são apenas alguns dos pontos em oposição que requerem atenção das organizações quanto ao uso da civilidade para o atingimento de seus objetivos.
Em 2013, um artigo assinado por Cristiane Porath e Christine Pearson revelou que 98% de milhares de trabalhadores norte-americanos pesquisados por 14 anos reportaram alguma experiência de incivilidade no ambiente de trabalho.
Aproximadamente 50% dos pesquisados afirmaram que em 2011 foram tratados rudemente ao menos uma vez por semana, cerca de 25% a mais do que em 1998.
Como cada vez mais fica difícil separar a vida pessoal da carreira profissional, os atos de incivilidade no local de trabalho acabam prejudicando a pessoa e o profissional.
Não só a saúde e a performance do profissional são afetadas, como também a sua vida pessoal e o seu relacionamento familiar, em um círculo vicioso que não demorará a se repetir.
EFEITOS DA INCIVILIDADE
Contudo, talvez o dado mais interessante é o de que a incivilidade traz prejuízos à própria organização que a incentiva e tolera ou não percebe que seus líderes dela usam e abusam para atingir metas de curto prazo. Ocorre que no longo prazo os efeitos não tardam em aparecer.
Alguns dos principais efeitos da incivilidade são:
- queda da qualidade e da quantidade de trabalho executado por seus profissionais;
- altas taxas de adoecimento dos profissionais;
- perda de tempo dos profissionais com preocupações relacionadas aos atos hostis ou fugas dos seus perpetradores;
- aumento do turnover (rotatividade da mão-de-obra);
- baixa retenção de talentos;
- diminuição da taxa da lucratividade das organizações;
- aumento de gastos com processos judiciais;
- diminuição do engajamento e da motivação dos profissionais;
- prejuízo da colaboração entre colegas, gestores e setores;
- piora do relacionamento com clientes e fornecedores.
Pouco importará se a organização não “quer” ou simplesmente não “consegue” perceber a incivilidade. Os custos financeiros, emocionais e relacionais serão os mesmos causados por organizações movidas a incivilidade.
CUSTOS PARA OS PROFISSIONAIS
No estudo acima citado, os autores mencionam os resultados de outra pesquisa feita com 800 gestores e trabalhadores de 17 indústrias. Dentre aqueles profissionais que experimentaram atos hostis no local de trabalho:
- 12% afirmaram que deixaram seus empregos por causa do tratamento hostil;
- 25% admitiram que descontaram a frustração nos clientes das organizações;
- 38% diminuíram intencionalmente a qualidade de seu trabalho;
- 47% diminuíram intencionalmente o tempo gasto no trabalho;
- 48% diminuíram intencionalmente os esforços no trabalho;
- 63% perderam tempo evitando o ofensor;
- 66% afirmaram que a performance no trabalho piorou;
- 78% afirmaram que o comprometimento com a organização piorou
- 80% perderam tempo se preocupando com o ato hostil.
A percepção do fenômeno da civilidade passa a ser, portanto, uma eficiente arma no combate à hostilidade no ambiente de trabalho.