INCIVILIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO

11/11/2019 | Civilidade


Muitos dos comportamentos contrários a civilidade e mencionados em nosso artigo anterior ocorrem no ambiente de trabalho.

Há diversos estudos e pesquisas sobre o assunto e, recentemente, as organizações abriram os olhos para a necessidade cada vez mais premente de capacitar seus colaboradores em civilidade.

Dois exemplos bem simples demonstram a relevância do tema: a) a conduta discriminatória, que pode ocorrer na contratação deliberada de pessoas do sexo masculino para evitar custos trabalhistas com estabilidade da gestante; b) a promoção de empregadas do sexo feminino com vistas à prática de assédio sexual no futuro.

Há comportamentos outros que, embora mais sutis, também carregam alta carga de incivilidade.

Um comentário adequado sobre a roupa de uma trabalhadora pode ser genuinamente educado, isolado e fortuito, como também pode vir a ser o primeiro passo de um conjunto de ações orquestradas para a obtenção de vantagens das mais variadas naturezas.

PORTÃO DE ENTRADA PARA A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INCIVILIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO

O mais interessante é que organizações onde atualmente a incivilidade é a regra já foram lugares onde a civilidade reinou. Atos não tão significativos muitas vezes abrem caminho para a disseminação da incivilidade no local de trabalho: 

  • colocar o colega de trabalho “para baixo”;
  • revirar os olhos a cada comentário de um colega;
  • usar intensamente o sarcasmo;
  • deixar de sorrir ao encontrar um colega ou chefe,
  • deixar de reconhecer um erro,
  • deixar de se desculpar,
  • deixar de cumprimentar o próximo,
  • deixar de retornar uma ligação
  • deixar de agradecer por algo.

Em um primeiro momento, tais atos parecem inofensivos. Ocorre que a prática reiterada e generalizada pode escalar e ser fatal no longo prazo. 

POUCOS ATOS, MUITOS ATINGIDOS

De acordo com Pauline Schilpzand, Irene E. de Pater e Amir Erez, incivilidade no trabalho é “um comportamento custoso e disseminado no ambiente de trabalho que produz consequências negativas de ordem afetiva, cognitiva e comportamental para os seus alvos, suas testemunhas e seus autores”.

Três elementos na definição chamam a atenção.

O primeiro diz respeito aos custos, que não são apenas financeiros, mas também emocionais e relacionais. Ou seja, a incivilidade abala o estado emocional da vítima e dos colegas de trabalho, os quais passam a se fechar para as iniciativas e a se dedicar menos para a organização.

O segundo elemento a destacar é a disseminação. Se não houver uma cultura de percepção e combate à incivilidade em seu estágio inicial, será questão de tempo para que grande parte ou todo o ambiente de trabalho fique contaminado, sem que os dirigentes sequer tomem conhecimento disso.

Terceiro, é de se notar os desdobramentos da incivilidade para além dos envolvidos no relacionamento.

É certo que quem causa a incivilidade se desvia de seus objetivos profissionais e dos propósitos da organização, comprometendo tempo e energia que deveriam ser destinados às tarefas e aos compromissos profissionais.

A vítima, por sua vez, passa a se preocupar com o algoz, o ambiente desfavorável e as consequências da incivilidade.

Por fim, aqueles que presenciam a incivilidade se incomodam com a cultura organizacional (ou a falta dela) e deixam de se comprometer e se identificar com a missão e os valores da organização.

APRENDIZADO É A CHAVE

Prevenir, gerenciar e resolver a incivilidade é a solução para as organizações.

As três ações dependem de aprendizado e atenção constantes.

Líderes devem identificar junto com seus liderados as causas e as formas de incivilidade, inclusive com a avaliação anônima dos chefes pelos subordinados, de modo a construir uma política “pró-civilidade”.

Em seguida, os agentes da incivilidade devem ser alertados e treinados para mudar o comportamento, assim como a organização deve anunciar aqueles comportamentos contrários à civilidade que não mais serão tolerados.

Em caso de persistência, a troca do profissional será a única e última medida a efetivar, tudo de forma a inspirar os profissionais pelo exemplo. 

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